A CIP fez um estudo sobre o estado da economia real. As respostas variam entre os sintomas ligeiros e os muito fortes. O primeiro diagnóstico apresenta os prestadores de cuidados de saúde e as tecnologias de informação e eletrónica como os casos mais graves.

 Para avaliar o que se passa no terreno, a CIP – Confederação Empresarial de Portugal fez um inquérito às associações empresariais suas associadas. As questões, enviadas a 19 de março, estão na base de um quadro quase clínico dos sintomas de cada área de atividade e os resultados são claros: prestadores de cuidados de saúde e tecnologias de informação e eletrónica protagonizam os casos mais graves. “o impacto é muito forte” ao nível das dificuldades no abastecimento, no momento atual e no futuro, mas também é “muito forte” na redução da procura atual e esperada.

Ainda na saúde, os hospitais privados avançam como níveis “muito fortes” de preocupação no abastecimento presente e futuro, que passam a moderados na redução da procura atual e a fortes na procura futura.

Na metalurgia e metalomecânica, o sector mais exportador de Portugal, as dificuldades de abastecimento no presente são ainda pouco significativas ou nulas, mas a expetativa é que passem a fortes, tal como no que respeita à redução da procura.

Na cortiça, fileira em que a indústria lusa é líder nacional, o quadro atual no abastecimento é moderado, mas a expetativa é que passe a forte. No que respeita à redução da procura, a previsão é a passagem de um estado de impacto forte a muito forte.

A indústria extrativa (pedreiras) aponta para fortes dificuldades no abastecimento, com tendência a evoluírem para muito fortes, tal como na redução da procura.

Na fileira florestal todos os campos apontam para níveis moderados de preocupação, à exceção da perspetiva de evolução negativa da procura, que já é forte.

Nos curtumes, as respostas variam entre níveis moderados de dificuldade no presente que passam a fortes no futuro próximo.

Já o diagnóstico na cerâmica indica um nível moderado de preocupação no que respeita a dificuldades de abastecimento no presente, mas passa a forte nos restantes 3 pontos.

A resposta da indústria química a este inquérito varia entre a moderação para o abastecimento atual, que passa a muito forte no futuro, e uma forte preocupação para a redução da procura que evolui para muito forte no futuro.

No mobiliário, as perspetivas futuras apontam para fortes problemas no abastecimento que se tornam muito fortes na redução da procura. No momento atual, o sector de preocupações pouco significativas ou nulas, no primeiro caso, e moderadas no segundo.

A indústria têxtil apresenta um quadro semelhante, mas mais problemático no que respeita a quebra de encomendas, com o barómetro da fileira a assinalar níveis moderado e forte no abastecimento, moderado e muito forte nas encomendas.

Outros sectores como as conservas, fundição, plásticos, veículos de duas rodas, eletrónica e farmacêutica e conservas de peixe mostram-se mais otimistas, com as respostas a variarem apenas entre os patamares de “pouco significativo ou nulo” e “moderado”.

Com base na ronda pelas associadas, a CIP dá, ainda, indicações sobre algumas regiões do país, com destaque para o Algarve, que apresenta níveis muito fortes de preocupação no que respeita à expetativa sobre a evolução no abastecimento e na procura, tal como a Região Autónoma da Madeira.

RESTRIÇÕES À MOBILIDADE COMEÇAM A IMPACTAR EM DIFERENTES SECTORES

Outro ponto analisado pela CIP respeita às restrições impostas à mobilidade de cidadãos e mercadorias. E as respostas mostram a dinâmica diferente vivida em cada atividade, com as tecnologias de informação e eletrónica a mostrarem-se confortáveis, uma vez que “o recurso ao teletrabalho nas empresas do sector não é novidade”, mas a admitirem não ser ainda possível avaliar “impactos reais na produtividade”.

No caso dos têxteis e vestuário, o travão é claro: “estima-se que na próxima semana bastantes empresas do sector veja reduzida a sua atividade e comece a ter graves problemas de tesouraria” devido à conjugação de fatores como o cancelamento de encomendas, falta de encomendas e não pagamento de encomendas entregues.

A cerâmica fala de “informações de clientes estrangeiros a alertar para a quebra enorme que estão a ter nas vendas e que poderão ter de cancelar todas as encomendas que estão colocadas para entrega durante os meses de maio e junho”.

A cortiça alerta para o facto da “forte vertente exportadora do sector estar a ser comprometida” e ser “já evidente a redução de encomendas”.

Nos curtumes, o ponto da situação atual refere transportadores que já não fazem viagens para destinos como Itália, “onde os motoristas se recusam a ir fazer entregas”, mas também “dificuldade em realizar as entregas de remessas prontas de produto acabado por falta de autorização dos clientes por por dificuldades nos meios de transporte” e “atrasos na expedição de encomendas para clientes do oriente”, a par da “subida dos preços dos transportes”.

Atraso na liquidação de faturas e, também, atrasos nas entregas da indústria química, assim como “dificuldades no planeamento da atividade e incerteza de mercado estão, também, em cima da mesa do sector.

Fonte: Expresso